sábado, 25 de outubro de 2008

A Praianinha


Vamos! Prá onde? Peço emprestada. E aí? A chave tá na mão. Chama quem? Ela também quer ir. Leva todo mundo. Não dá... Arruma outro. Maior galera. Vamos nessa! Dá prá parar ali? preciso fazer xixi. Vou comprar cigarros. Que qui tu tá comendo? Tá ruim. O que? Tá frio. Me empresta seu blusão,tu num tá usando mesmo. Aí, não vamos chegar nunca... Já estamos chegando. Que parada é essa? Mangaratiba. Nunca estive aqui antes. Prá onde eles vão? Passear ,deixa prá lá. Preciso dum banho, tô morto. Ih aí, tem água não. Como é que faz. Sei lá. Tem vizinho. Tem? Chefia, chegamos sem água. Não queremos dar trabalho! Amigo , deixa que eu faço isso. Gente boa demais! Eu sei. Mas fiz uma promessa. Qual? Vamos à festa. Que festa? A deles. Quando? Hoje. À noite. Todo mundo lá! Tô morto! Morre lá. Me arruma uma toalha. Não demora. Este banho não acaba nunca? Tem fila e tá chegando a hora. Boa noite, chefia! Estamos todos aqui. Bebo, bebo sim. Cachaça? É? Vira logo! Calma. Fala baixo. Encheu de novo. Não vira mais. Tá tudo virando. Pronde eles tão indo? Prá praia. Tem praia? Tem. Tá escuro. Tô vendo nada. Nem eu.

Bala Perdida

Se for atravessar tanto faz com movimento ou sem: uma parada estranha, nervosa, prum lado e pro outro, com medo. Parada estranha, às vezes, dá na hora errada. Escapa da caçapa, bate vira, volta e fica na beirinha do precipício.
Desafia gravidade tapando os ouvidos, gastando o que não tem bebendo todas. Daí, não lembra de nada, quer morrer mas renasce careta, medroso, de novo!

domingo, 19 de outubro de 2008

In memoriam +


Pois perdi as sete de uma vez nem sei porque, acho que não tinha mesmo tantas vidas e no primeiro vacilo, dancei...

Sobre terras que nunca estive

Ah! Hoje vou escrever.
Escrever sobre terras que nunca estive, sobre povos que não conhecí e que habitam em minha alma, como se fossem reais.
Estou no meio da rua, no meio da multidão, no quase nada, repetido, repetido... num refrão de contos que ouço desde que nascí.
O que fazer... a não ser esperar um milagre na esperança que não será a última a morrer.

Boneca de fita


Procura-se um coração.
Encontra-se ferido,
um trapo,
sozinho,
sem alinhavo.
Telefone... para notícias.
Recompensa-se muito bem.
Por conta do coração
Minha boneca
Faz fita...
Não quer brincar com ninguém.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Movimentando



Uma grade imóvel sustenta uma concertina
A grama balança junto com as folhas do coqueiro
na brisa leve da manhã
Biquinhos de lacre voam prá lá e prá cá
E a maré enche devagar
O horizonte é uma via expressa
Carros voam prá lá e prá cá

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Daltonismo


Deve ser muito estranho ser daltônico. Daltônicos são pessoas que não vêem coisas que nós vemos, sabem disso e não se sentem nem um pouco por fora. Francamente, eu me sentiria. Apesar de ter certas dúvidas quanto a visão... Já que, como temos certeza de que o que vemos é o certo? Como temos certeza que só não estamos vendo uma ilusão coletiva, afinal muitas vezes não só vemos o que queremos? Ou será que tudo o que vemos e entendemos é uma ilusão criada por uma só pessoa e aceitada por todas as outras? E quem escolhe ver as coisas um pouco diferente é visto como excêntrico? E quantas vezes no curso da história soubemos de pessoas que enxergaram coisas que hoje são a mais pura verdade, mas em suas épocas foram discriminados e taxados de loucos. Os loucos de hoje então são pessoas que vêem além de nós? E serão esses os gênios do futuro? Acho que vou começar a passar mais tempo em manicômios e talvez consiga visualizar pra onde isso tudo está indo.

sábado, 4 de outubro de 2008

Teorias


Tenho uma teoria. Consiste na idéia de que cada ser humano é formado de pedacinhos. Por exemplo, um pedacinho de mim adora bolo de chocolate, outro odeia milho, outro perdoa fácil e outro é muito preguiçoso. Existem, no entanto, pedaços bem maiores, esses são mais complexos e muitas vezes nem mesmo as pessoas que os possuem os entendem. Minha teoria também inclui a idéia de que nunca conseguimos entender ou sequer conhecer todos os pedacinhos de alguém. E, portanto muito dificilmente alguém irá conhecer todos os nossos pedaços. Quem nunca viu alguém que julgava conhecer tão bem fazer ou dizer alguma coisa completamente inesperada? Pois é, conhecer um novo pedacinho de alguém pode ser um grande choque. Aquelas pessoas que chegam ao fim de suas vidas compreendendo totalmente seus inúmeros pedaços(até os maiores), acho eu, são realmente raros e afortunados.

Peregrino



"Amanhã é outro dia, é preciso saber esperar".

Dia de missa e dia de preguiça,
dia de votar , de participação,
dia de feira sem eira nem beira,
dia de prova, de avaliação.
Amanhã...
é dia de dar graças e de passear na praça,
é dia de festa, dia do trabalhador,
é dia das mães e dia do Fico,
dia de natal, dia do professor.
Também tem dia do índio e dia da vó,
dia de frio e dia de calor
tem os dias tristes e os dias felizes
os dias calmos, dias de terror.
Dia de encontro e de desencontro,
dia de plantar e dia de colher,
dia de sol e dia de chuva,
dia de São Pedro e de São Salvador.
Dia de casar e de separar,
dia de nascer e dia de morrer,
tem dia do batismo e da consagração
e de se preparar prá quando o dia chegar.
Amanhã é outro dia...
dia de jogo, dia de exposição,
dia de dúvida e de conclusão,
dia de volta e dia de ida,
dia de audiência, dia de petição.
Dia de dar, dia de receber,
dia de vazio, de consumição,
dia de rodeio, dia de quadrilha,
dia de errar e de se arrepender,
dia de acertar e de se comover,
dia de falar e de se defender...
Também tem dia
prá calar, nada revelar,
dia prá esperar e dia prá acontecer,
dia de esperança e de ressurreição
dia de protesto e de contestação...
tem dia prá eu, tu, ele, nós, vós, eles.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Tradução


Escrever é o caminho para a lucidez.
É redesenhar o mundo.
É liberar-se da dor, solidão, paz, amor, desejo, alegria, angústia, ou qualquer outro sentir.
É traduzir-se.
É desinquietar-se.

Entrega


Da vida nada se leva.

E a vida, o que leva?
Leva os nossos sonhos e nossa fé. Nossos esforços e consciência.
Leva nosso pescoço e paciência.
A vida leva e olha prá gente com frio, no vazio, caído no poço,
sem eira nem beira... e RI...

Ri contente.
Afinal não é todo dia.
Tem gente que presta atenção
e não entrega não, Seu João.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Brilho eterno de uma mente sem lembranças



Acordei um dia sem lembrar de nada. Não sabia quem era meu pai, minha mãe ou se aquela era a minha casa, fiquei sem fazer nada. Resolvi ir embora e recomeçar vida nova, fui para outras cidades, para outros países e talvez até a outros mundos; mas cada vez que acordava não lembrava mais de nada. Fiquei vivendo sem lembranças e sem afeto. Até que mandei tudo pro inferno e aproveitei a liberdade de não lembrar das maldades do mundo.