segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Afetos de fato



"natural é as pessoas se encontrarem e se perderem".
(caio fernando abreu)


certos gestos são tão peculiares que nos transportam a momentos igualmente singulares e é daí que sobrevivem as memórias afetivas ## a hora do café e o ritual que antecede o primeiro gole: a escolha do lugar, a mesa distanciada do vai e vem dos garçons; decidir entre descafeínado, capuccino, expresso, pingado, carioca, pequeno ou duplo ## aguardar a chegada das xícaras alinhavando palavras em conversas banais, (pré)sentir o aroma e então, o gesto: o envelope de adoçante levemente sacudido no ar, em seguida, rasgado apenas de um lado e, finalmente, despejado na bebida quente ## faz-se um silencio que apenas permite o som distante de um piano enquanto os primeiros goles vagarosamente são saboreados ## pequenos prazeres que certamente não se repetem com freqüência e, por isso mesmo, se constituem prazeres (e pequenos porque valiosos) ## daí, sobrevivem as memórias e os afetos.

Um comentário:

Anônimo disse...

certos afetos se cristalizam e se tornam gestos. que configuram-se como rituais aos quais nos apegamos pra tentar eternizar o momento em que se deu, no qual se transparece como noite de lua cheia. certos momentos nao passam, parecem que sempre estiveram e que foram reconhecidos. isso deve ser a eternidade, um ritual de lembrar sempre presente em nossa memória. no presente nem sequer nos damos conta dos fatos acontecendo... um cafe a xicara o acuçar o gesto... tudo que importa é o gesto que se queria escondido... e que se traduz no fato de estarmos sendo afetos de fato.